O Mundo parou de girar nos seus 360 graus e permanecia quieto e intacto, enquanto o sol se punha, no infinito daquela imensidão, como uma miragem que quase nos podemos sentir a tocar.
As dunas de Erg Chebbi situam-se no sudeste do centro de Marrocos e, fazendo fronteira com a Argélia, são a única zona fronteiriça pacífica, proporcionando, assim, um "intercâmbio" de mercadorias mais fácil. É com a ajuda de burros mercantes que muitos marroquinos/argelinos, atravessam aqueles extensos areais e traficam drogas e outros bens entre um país e outro.
Foi em jipes de última geração que fizemos o caminho de Erfoud até Merzouga, ao acampamento do grupo Sahara Garden, onde encontramos os dromedários à nossa espera, quais reis do deserto.
As corridas desenfreadas dos condutores que competiam entre si trouxeram-me à memória o Rally Dakar, que via na tv, em miúda. E logo eu, que nem conduzo, dei por mim a torcer para chegarmos em primeiro, ciente de que o prêmio era poder estar próxima daquelas pirâmides de areia, as maiores do país, que chegam a alcançar os 250 metros.
Posso garantir, aos menos aventureiros como eu, que é bem confortável e seguro. São animais dóceis, que gostam de palavras de encorajamento e ternura, mas muito resistentes. A única dificuldade foi conseguir subir, porque apesar de os animais estarem sentados para nos facilitarem, o meu metro e meio de altura não era suficiente e tiveram de me pegar no colo.
Seguimos o caminho, bem devagar, com direito a fotos surpreendentes, como se planássemos sobre as areias douradas, e quando chegamos perto o suficiente das dunas, descalçamos-nos e começamos a escalar, enquanto a areia nos fugia debaixo dos pés.
Foi a meio do percurso que perdi as forças e o fôlego. A dificuldade de respirar, as cãibras e a incapacidade de continuar, fizeram-me desabar de joelhos, derrotada, enquanto olhava ao meu redor, tão perto e tão longe que estava. Depois de tanto ansiar por chegar alí, ao topo do sonho, o meu corpo falhou devido à altitude.
Quando dei por mim, numa fração de segundo, estava a ser carregada, quase de cócoras; de um lado, o meu marido, que me agarrava pela mão, enquanto me incentivava a continuar; do outro, um berbere que, com mais de 60 anos, fazia daquela subida um caminho rotineiro, segurando-me pelo braço e dizendo que sim, que eu ia conseguir subir, como quem ajuda uma criança a dar os primeiros passos, após uma queda.
Depois disso, a memória que tenho, a que ficou verdadeiramente, foi de chegar lá acima e encontrar uma manta estendida, à nossa espera, onde nos sentamos, a recuperar energias e a acalmar toda a adrelina.
Como velhos amigos, o grupo admirava a paisagem que se estendia diante dos nossos olhos, perplexos e extasiados por aqueles quilómetros desérticos.
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